sábado, 11 de abril de 2009

A dura realidade de viver em um abrigo

Recebemos um texto muito interessante que dá uma idéia bem exata de O QUE É UM ABRIGO... E COMO É VIVER EM UM...

Achamos tão interessante e verdadeiro, que gostariamos de compartilhar com vocês!



A Realidade dos Abrigos de Animais
por Maria Augusta Toledo
http://anjosparaadocao.multiply.com

Toda vez que me perguntam se conheço algum abrigo que aceite seu animal de estimação, eu me lembro da necessidade de escrever sobre o assunto.

Esta semana os pedidos foram tantos, que vou tentar descrever a realidade dos abrigos, que é bem diferente da imagem que muitas pessoas fazem deles.

O cão, quando vai para um abrigo, não está saindo de férias ou indo passar uma temporada em um SPA ou hotel Cinco Estrelas. Infelizmente, ele vai enfrentar uma dura realidade.

Alguns humanos resolvem, por vários motivos, se desfazer do animal que viveu muitos anos em sua companhia, outros então devolvem o animal adotado depois de meses de convívio com uma família e todos acham que ele ficará feliz indo para um abrigo.

Estas pessoas precisam saber que o estresse enfrentado pelo animal que sai de um local onde ele se sente seguro e amado é tão grande que, na primeira semana no abrigo ele adoece e demora muito tempo para se recompor e participar da vida coletiva. No período de adaptação ele fica apático, deprimido e muitas vezes pára de se alimentar. Os mais sensíveis ou velhos adoecem gravemente e alguns acabam morrendo.

Só quem já visitou um abrigo de animais sabe do que eu estou falando.

Existem vários tipos de abrigo:

Alguns são pequenos, com poucos animais, o tipo de local que a maioria dos protetores acaba construindo e que fica muitas vezes em sua própria casa. Nestes, os animais tem alimento, proteção, mas nem sempre têm atenção e carinho.

Tem também aqueles maiores, que pertencem a sociedades protetoras, onde os animais muitas vezes sofrem por falta de alimentos e cuidados. Neles há superlotação e são rotineiras mortes causadas por brigas, disputa por território, alimento e até disputa por atenção.

Nestes locais os cães e gatos estão sempre tristes, apáticos ou ao contrário, tornam-se tão agitados que não conseguem relaxar nunca.

Já resgatei animais de abrigos que se comportam como crianças delinqüentes: eles são agressivos, extremamente inquietos e podem demorar anos para se reequilibrar.
Nos locais menores e mais bem equipados, os animais não passam fome, mas estão sempre carentes e chegam a brigar por um simples afago e você precisa ficar atento para não privilegiar nenhum deles.

Vou diariamente a um abrigo que comporta 30 cachorros e sinto na pele todos os problemas que mencionei.
Chego sempre no mesmo horário e os cachorros já começam a correr e a latir quando estou a um quarteirão de distância. Eles já sabem a hora certa e ficam tão agitados que muitas vezes começa uma briga antes mesmo que eu abra os portões.

Nesta hora, preciso ser rigorosa e exigir que eles se acalmem. Sempre levo algum petisco e começo a servir para a turma que só então fica quieta, esperando para ganhar o prêmio.

Então, aproveito o silêncio para conversar com eles e explicar que estou procurando bons lares para todos e que eles precisam ter paciência, pois é uma questão de tempo e logo eles irão ter uma vida melhor. Conto que eu me esforço ao máximo, mas é difícil encontrar pessoas sem preconceito e que também tenham amor para dar. Mas, claro, isto não é impossível de acontecer e eles vão conseguir sua casa, mesmo que demore um tempo.

Sei que muitos deles não terão nenhuma chance, pois são vira-latas e velhos e muito dificilmente alguém se interessará por eles. Para estes eu digo que não precisam se preocupar, pois no abrigo terão sua velhice garantida e todo amor e cuidado que eu e minhas parceiras pudermos lhes dar.

Todos os dias eu saio de lá com um nó na garganta, pois eles sabem que só voltarei no dia seguinte e que terão um longo dia pela frente, sem atenção e sem a companhia de um humano. Lá, como na maioria dos abrigos, eles só têm o básico: comida, água e proteção contra as intempéries.

Mas, felizmente e aos poucos, eles acabam aprendendo a conviver com a solidão e hoje já não sofrem tanto quando eu fecho o portão. Resignados, eles vão para suas casinhas esperar o tempo passar.

Fico triste, mas só não me desespero porque penso que eles estão melhores lá do que na rua passando necessidades.

Por tudo que os animais são obrigados a suportar, é importante que o abrigo seja sempre encarado como local transitório, uma casa de passagem e não lar definitivo para cães e gatos. Animais domésticos, como o próprio nome diz, existem para viver em contato e na companhia de humanos, pois dependem deles para todas suas necessidades.

O certo é que sempre paira um ar de tristeza e resignação sobre os abrigos.

Isto porque todos os animais que lá estão foram um dia abandonados e mesmo os que se perderam de suas casas ficaram traumatizados, pois nas ruas passaram por muita privação e medo.

Eles se tornaram seres inseguros que têm receio de nos decepcionar, de fazer algo errado e de sofrer novamente.

Jim Willis, escritor e defensor dos animais, descreveu com precisão os abrigos em seu livro Pieces of My Heart:

"Olhei para os animais abandonados no abrigo… os renegados da sociedade humana.
Vi em seus olhos amor e esperança, medo e horror, tristeza e a certeza de terem sido traídos.

Eu me revoltei e rezei:
– Deus, isto é horrível! Por que o Senhor não faz nada a respeito?
E Deus respondeu:
– Eu fiz.
Eu criei você.”

Esta infelizmente é a realidade dos abrigos e nós devemos lutar para melhorar a situação destes seres abandonados.

Mas, assim como algumas pessoas abandonam, outras se desdobram e fazem de tudo para corrigir esta falha.

(...)
É emocionante ver a alegria dos cachorros quando elas chegam. Quando saem para passear então, eles correm, rolam na grama, ficam tão agitados que às vezes tenho até medo que possam ter algum problema de saúde. Mas, voltam dos passeios muito mais felizes e revigorados, com energia para agüentar mais uma semana de espera por um lar.

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