Brincadeiras Levadas a Sério
Em algum momento do dia, não há quem não brinque com seu cão. Ou jogamos bolinha com ele, ou brincamos de pega-pega, esconde-esconde, e, se naquele dia não estamos lá muito dispostos a brincar, pelo menos ficamos acariciando seus pêlos.
Pois a minha proposta é: e se você usar esse tempo não só para brincar, mas também para ensinar seu cãozinho – especialmente se ele ainda for um filhote – a se comportar bem em algumas situações chatas e inevitáveis para vocês dois, que ele terá de enfrentar principalmente em seu primeiro ano de vida? Essa é a época em que uma doençazinha ou outra sempre aparece, sem contar a porção de vacinas que ele tem que tomar para se fortalecer nesse início de vida.
Sem muito esforço, você pode ensiná-lo a adquirir um bom comportamento em diversos momentos: quando ele é examinado pelo veterinário, na hora de receber um remédio via oral, quando suas patas precisam ser limpas, quando você tem que passar pomada na orelha dele...
Veja como educá-lo para que ele reaja bem a essas situações:
Remédios via oral – Primeiro, é preciso sair da condição de humano e entender que de todos os cinco sentidos (olfato, paladar, tato, audição e visão), o paladar é o menos apurado nos cães. Nós, humanos, somos capazes de degustar com enorme prazer vinhos, queijos e todos os tipos de alimento e perceber, até nos pequenos detalhes, as diferenças entre um e outro. Já dos cães, embora eles também tenham suas preferências alimentares, não se pode dizer exatamente que eles sejam o melhor exemplo de um paladar refinado. Existem cães, por exemplo, que parecem achar uma delícia pratos exóticos como fezes, lixo e comida estragada. Ora, se eles comem tudo isso de bom grado, por que não engolirem um comprimido ou tomarem um xarope sem escândalos?
Bem, na maioria das vezes a aflição do dono por aquele momento é tão grande que ele é que acaba passando para o cão toda essa ansiedade. O que o cão faz, então, é captar essa tensão, visível na expressão corporal de seu dono, e achar que está entrando numa fria.
Como educá-los: desde filhotes, habitue-se a colocar petiscos pequenos bem dentro da garganta dele, já simulando o ato de dar comprimido. É um treino tanto para ele como para você. Não precisa ser com violência, à força. Puxe a bochecha do cão com uma mão e com a outra enfie um petisco não no meio da boca dele, mas na lateral do interior da boca, perto da gengiva, e no fundo. Siga deslizando o dedo com o petisco pela gengiva e introduza na garganta, fechando o focinho de leve, para que ele não cuspa o comprimido. Depois, dê a ele outro pedaço de petisco, pela via normal, ou seja, pela boca, sem introduzi-lo na garganta. Apenas estenda a mão com o petisco e diga: Pega! ou Tó! Repita esse exercício todos os dias. E lembre-se: o petisco deve ser pequeno no começo e ir aumentando de tamanho até chegar ao tamanho médio de um comprimido. Assim seu cão vai se acostumar e depois enfrentar com naturalidade a hora do comprimido.
Outro treinamento de ingestão de remédio é colocar numa colherinha alguma bebida gostosa e inofensiva e dar para ele lamber. Pergunte ao seu veterinário que líquidos seu cão pode ingerir – além de água, claro. Para a Zazá e a Scully, minhas cachorras, a dra. Lúcia, veterinária delas, liberou, não mais que duas vezes por semana, um pouco de leite integral misturado com água, e água de coco à vontade. Dê todos os dias cerca de cinco colheradas, para que seu cão se acostume com a sensação de receber a colher na boca. Em seguida, dê-lhe um petisquinho como recompensa. Você vai ver como será fácil, depois, dar remédios líquidos para ele na colher. Caso prefira, em vez de treinar na colher treine com uma seringa. Coloque, delicadamente, só a pontinha dela na boca do cão e introduza o líquido bem devagar para que ele sinta o gosto gostoso do que está ingerindo.
Limpando as orelhas – Antes de mais nada, coloque seu filhote no colo e faça uma massagem gostosa em cima da orelha dele. Se ele não quiser ficar sentado em seu colo, acomode-o de forma a que ele, pelo menos, fique com a cabeça em seu colo. Coce a orelha dele até sentir que ele está bem relaxado. Depois, ainda na mesma posição, enrole um algodão no dedo e limpe a parte interna da orelha, como se ainda a estivesse coçando. Se ele reclamar, diga Fica! com firmeza e em seguida algo como: “Depois tem o petisco...” (ou brinde, ou bifinho, ou biscoito, enfim, o nome que você está acostumado a dizer quando lhe dá um agrado sob a forma de comida).
Limpando as patas – Terminado o passeio, algumas pessoas fazem questão de limpar as patas do cachorro antes de ele entrar em casa. Um conselho: lenços umedecido são ótimos, mas a maioria dos cães se incomoda profundamente com o cheiro forte de perfume que eles costumam ter. Se o seu cão também não gostar, substitua por um paninho úmido. Antes de entrar em casa, ainda na área de serviço, peça que ele sente e dê a pata. Limpe cada uma com delicadeza, dizendo o comando “Espera!” ou “Fica!” quando sentir que o cão está inquieto. Depois de limpar as quatro patas, dê um ossinho a ele, dizendo “Muito bem!”
Subindo na mesa – Alguns cães resistem a subir e a ficar na mesa do veterinário. Para evitar esse medo, habitue-se a colocá-lo em alguma mesa alta de sua casa. Peça que ele suba, atraindo-o com um petisco ou uma bolinha de que ele goste. Mostre o reforço positivo primeiro no chão, mas só lhe dê quando mostrá-lo em cima da mesa. Diga: Suba!, ou Vem pegar!, ou To!, ou Aqui, vem pegar! Caso ele ainda resista em subir (ou não tenha tamanho para isso), pegue-o no colo e coloque-o na mesa. Faça muito carinho nele, penteie-o com uma escova de cerdas macias, tornando esse momento de estar na mesa um instante agradável para ele. Passe a mão por todo o corpo dele, como se estivesse lhe fazendo uma massagem, mas não o vire de barriga para baixo até ele ter total confiança de que não irá cair de lá. Se mesmo assim seu cão não conseguir relaxar e você o sentir muito inseguro, deixe-o na mesa apenas por poucos segundos e depois vá aumentando esse tempo até ele ir se acostumando. Pode levar algum tempo até ele se acostumar com esse “pódio”, mas os resultados são fantásticos.
Escovando os dentes – Essa é uma tarefa para a qual os donos já torcem o nariz antes mesmo de experimentar. Sempre pensam: “Ihhhh, escovar os dentes vai ser difícil...”. Mas não é. Juro, é supersimples e não dói nada. Comece passando um pouco de pasta de dente própria para cães no seu dedo indicador. Com a outra mão, puxe a bochecha do cão (o cão não sente nenhuma dor), leve o dedo com a pasta até a gengiva e comece a massageá-la. Depois que ele se acostumar com essa manipulação – e eles se acostumam, porque gostam muito do sabor da pasta (em geral as pastas próprias para cães têm gosto de carne) –, compre uma escova de dentes apropriada e escove apenas os dentes laterais e os caninos. Por fim, depois de um bom tempo, passe a escovar também os dentes por dentro, assim como os dentes da frente. Depois de encerrada a escovação, dê-lhes o reforço positivo de um petisco.
Toques super importantes:
Sempre após uma atividade dessas, dê um agrado a seu cão: um pedaço de bifinho, um biscoito, um pedacinho de salsicha light de peru, chester ou frango (em geral usadas para adestramento), um pouco de queijo branco... Lembre-se de perguntar ao veterinário qual o tipo de reforço positivo comestível mais indicado para o seu cão.
Durante a atividade, ensine-o a esperar pelo petisco, sempre dizendo frases do tipo: “Espera que depois eu te dou a salsicha” (ou outro reforço indicado pelo veterinário). É muito importante que o cão associe que logo após o exercício ele receberá sua recompensa por ter se comportado direito.
Não esqueça de acariciá-lo bastante quando ele estiver em cima da mesa. Essa é uma posição difícil para alguns cães dominantes ou medrosos, mas insista com muito carinho, voz firme e petisco. Você também pode dar uma determinada coisa de que ele goste muito só quando ele estiver na mesa. Um pedacinho de peito de frango, por exemplo. Insista, isso vai ajudá-lo a enfrentar com tranqüilidade a mesa do veterinário.
Na hora de fazer carinho, massageie todo o corpo de seu cão, inclusive patas, rabo e barriga. Faça isso desde os primeiros meses.
Por fim, nada de ansiedade. Aja sempre com naturalidade diante de seu cão. Momentos penosos para uma criança podem não ser nada terríveis para um cão se ele for treinado a sempre associá-los com coisas boas.
Não deixe de introduzir esses truques e exercícios na interação diária com o seu cão. Acredite, é um investimento que vai render muitos dividendos no futuro. Para vocês dois. Boa sorte.
Fonte: Kátia Aiello: http://www.katiaaiello.com/artigos/brincadeiras.htm
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